Hélio da Silva

Hélio da Silva

O empresário criou praticamente sozinho uma enorme área verde, o Parque Linear Tiquatira, nas margens descampadas do córrego de mesmo nome, em São Paulo. Ao longo de 18 anos, ele plantou 33 mil mudas num corredor de 3,5 quilômetros. As árvores, na sua maioria da Mata Atlântica, muitas delas frutíferas, atraíram abelhas, borboletas e pássaros. Depois Hélio lutou para que a prefeitura instalasse equipamentos de ginástica e banheiros para que a população também desfrutasse desse oásis urbano.

 

Eu andava todos os dias por esta área e via que ela estava cada vez mais degradada. Um motel a céu aberto, uma cracolândia com muita sujeira e quase nenhuma árvore. Então comprei 200 mudas e comecei a plantar ao redor do rio. E não é que destruíram quase todas? Ah, tá bom: então eu vou plantar mais 400. Fiz isso. No primeiro fim de semana depois do plantio elas ainda estavam lá, mas depois de um mês tinham destruído tudo de novo. Mas como não me canso decidi que iria plantar 5 mil árvores. Queria cansar as mãos das pessoas que estavam fazendo isso de tanto arrancar as mudas.

Passei a espalhar a notícia de que iria plantar mais mudas, mas queria saber quem estava destruindo. Descobri que era um comerciante que usava o local como estacionamento e não queria que as árvores tirassem a visão da loja dele. Sei que até os 'noias' do bairro foram falar com ele para garantir que nenhuma muda mais fosse retirada. 

Já plantei aqui 840 jequitibás. Quem chegar aqui daqui a dois mil anos, vai encontrar os jequitibás aqui. E, de cada doze árvores que eu planto, uma é uma frutífera silvestre, para passarinho. Como  goiaba, araçá e bacupari, que é excelente.

 

SEGREDOS DE QUEM PLANTA

  1. Quem quer sempre acha um jeito. Hélio é executivo do setor de alimentos orgânicos e viaja muito a trabalho. Mas seus fins-de-semana são dedicados ao plantio. "Isto aqui não é um hobby", diz. "É uma missão".
  2. Quando você mostra que está determinado a plantar, os outros reagem positivamente e o vandalismo diminui. "Viram que alguém estava tomando conta", diz Hélio. "A vida é assim: você tem que seguir em frente. Não dá para desistir de nada, tem que ser otimista".
  3. Não basta plantar, é preciso cuidar. O índice de sobrevida das mudas plantadas no Parque Linear Tiquatira é de mais de 90%. "Isso porque a gente cuida disso aqui", conta Hélio. "Árvore é como uma criança, você precisa vacinar, cortar o cabelo na hora certa, reparar se dorme direito. Com a árvore é igual. Primeiro você planta, depois faz uma pequena poda e três ou quatro adubagens por ano, até ela se firmar. "
  4. Hélio ajuda a criar uma relação de afeto entre as crianças que visitam o seu projeto e a floresta. Ele dá às árvores recém-plantadas o nome de quem pôs a planta no solo.  "Isso cria uma simbiose, uma relação forte entre o pequeno plantador e a muda", diz Hélio. "A minha esperança é que o Pedro um dia traga seu filho para conhecer o Pedro-árvore. E que isso vá se sucedendo". Ele mesmo conta que muito do seu afeto pela Mata Atlântica nasceu na infância, quando morava em Promissão, no interior de São Paulo, onde tinha acesso a rios limpos e muito verde. "Acho que isso está no meu DNA, motivou este trabalho", diz. 
  5. Não espere demais do poder público.  “Além de não poder estar em todos os lugares ao mesmo tempo, o poder público é lerdo, moroso, burocrático e, muitas vezes, sem vontade nenhuma de ser fraterno, cidadão, generoso”, diz Hélio.